A sociedade brasileira em meados do Século XX era predominante analfabeta, especialmente no meio rural, assim sendo, desconhecia a divisão regional adotada pelo IBGE e ensinada nas escolas, quais sejam, Norte, Nordeste, Sudeste, Centro-Oeste e Sul.
O povão reduzia o Brasil a duas regiões: Norte e Sul, Aliás, a música " A TRISTE PARTIDA", interpretada pelo cantor nordestino, Luis Gonzaga, utiliza esta expressão, em um trecho : "entonce o Nortista tão forte, vai ser escravo no Norte ou no Sul".
A causa deste preconceito e aversão recíproca entre os nordestinos e o Centro Sul do Brasil, historicamente, explica-se pelo fato de no Nordeste Brasileiro, no período colonial estar localizado o poder político econômico e político do País, ciclo da cana-de-açúcar. Não por acaso, a capital brasileira era Salvador.
Todavia, a crise da atividade açucareira no Nordeste deslocou o poder político e econômico para o Estado de São Paulo, mais precisamente para a burguesia cafeeira. A partir de então foi estabelecido um clima de disputa pelo poder político e econômico no País. Da parte do Nordeste a luta se dá visando recuperá-lo. No Centro Sul, liderado pelo Estado de São Paulo, a luta se dá no sentido de mantê-lo.
Por conta disso ao longo do tempo foi se construindo todo um discurso de preconceito e a discriminação tanto no Centro Sul como no Nordestre de uma região contra a outra. Não por acaso, no Nordeste, os nordestinos quando querem desqualificar alguém o chamam de Paulista. E no Centro Sul, quando se deseja desqualificar um nordestino, é só chamá-lo de baiano.
No Sul do antigo Estado de Mato Grosso, atualmente Estado de Mato Grosso do Sul, o qual sofreu um colonialismo cultural paulista, não por acaso a maioria dos seus habitantes torcem para os times paulistas, enxergam São Paulo como Estado Modelo, e claro, reproduzem o preconceito contra nordestinos.
Trazendo esta discussão para o contexto doméstico, ou seja, o São Lourenço, quando o desejo era desqualificar alguém que cometia um erro, expressava um ponto de vista equivocado,etc., dizia-se: "você parece que é baiano".
O carrapicho, uma erva daninha e espinhosa e até certo ponto odiada, não por acaso, é conhecida popularmente como "bosta de baiano".
Logo ser apelidado de baiano em nosso Estado era constrangedor. E eu e o Alberto por sermos netos de Luis Baiano (meu vô realmente nascera na Bahia),fomos carimbados com os apelidos: Enio(Eu, de Baiano e o Alberto ,Baianão, verdade seja dita, nos sentíamos bastante constrangidos. No entanto, com o passar do tempo aprendemos a administrar esta situação e, modéstia a parte, tiramos de letra.
E vejam queridos parentes, como são as coisas, hoje, a Bahia exerce o papel de uma capital cultural do Brasil, especialmente, Salvador, na música, carnaval, etc. Atualmente ser denominado de baiano significa diante do novo contexto um elogio, "status" mesmo.