Vou relatar fatos típicos do Brasil rural, em meados do Século XX, mais precisamente décadas de 1960 e 1970, e de fatos que eu vivi, em meu sofrido, porém, inesquecível, São Lourenço.
Estou me reportando ao inverno, e hoje, é oportuno abordar este tema, haja vista que está fazendo bastante frio. Pois bem, nas décadas citadas, não tínhamos acesso a energia elétrica como se verifica atualmente. Estas eram disponíveis em baterias ou pilhas e, diga-se de passagem, com preços elevadíssimos, preços, portanto, proibitivos aos pobres.
Não tínhamos geladeiras, quem as tinha, as alimentava a gaz, desnecessário pois, dizer, a custos elevados, logo preços também proibitivos aos camponeses de São Lourenço, por motivos óbvios, que eram pobres. Sendo assim, quando estava muito frio, perguntávamos aos nossos pais, tios ou avós se iria gear? Em sendo afirmativa a resposta, enchíamos bacias, baldes, canecos e outros utensílios e colocávamos nos telhados de nossas casas para que durante a noite, enquanto geasse, a água colocada nestes recipientes congelassem.
No outro dia, fazíamos a festa saboreando o gelo, provocado pelas geadas. Nossas geladeiras eram, portanto, naturais e se só funcionavam no período de inverno. Pra nós, uma verdadeira festa. Levantávamos cedo, e o cenário era o seguinte: a vegetação coberta de gelo e com camadas bem grossas. Atualmente, as geadas são bem mais fracas. E éramos felizes.